Quando parecia que tudo tinha acabado e que o gato ficaria ali para sempre, uma girafa entrou no quintal

O pátio seguia a sua vida normal. O sol batia suavemente nas paredes das casas, e o aroma a terra molhada e a pão fresco da padaria ali perto enchia o ar.
Os pardais cantavam nos ramos, e algures uma escada tilintou — o zelador estava a reparar um baloiço.

E de repente — um grito agudo, triste e penetrante.
Mesmo em cima de um velho choupo, onde os ramos eram mais finos que dedos, estava sentado um gato. Vermelho, pequeno e aterrorizado ao ponto de tremer.

No início, todos se riram. As crianças apontaram para ele e alguém gritou: “Anda, salta!”
Mas um dia passou, depois um segundo. O riso deu lugar ao alarme.

Ele não desceu. Não comeu nem bebeu. Limitou-se a ficar ali sentado e chamou alguém — não pessoas, mas, ao que parecia, a própria vida.

Os bombeiros chegaram por duas vezes. A escada só chegava até metade da árvore. O vizinho de cima tentou atrair o gato com uma tigela de salsicha.

Sem sucesso. O gato apenas se apertou ainda mais contra o galho.

Uma semana passou.
O pátio ficou mais silencioso. As pessoas saíram, olharam para cima e suspiraram.
À noite, quando o sol se pôs, a sua silhueta ainda estava lá — minúscula, mas persistente.

E então, na manhã de sábado, quando o ar estava limpo e cheirava a relva, o impossível aconteceu.
Um carro enorme com impressões de animais brilhantes passou lentamente pelo portão do pátio.
Todos pensaram que era um anúncio. Mas quando a traseira se abriu, um pescoço comprido e malhado espreitou.

Uma girafa.
Uma de verdade.

Pisou a calçada com cuidado, como se tivesse medo de perturbar a paz do pátio. As pessoas congelaram. Umas riram confusas, outras taparam a boca com as mãos. A girafa parou perto de um choupo, levantou a cabeça e olhou diretamente para o gato.

O mundo pareceu congelar. O gato parou de tremer. Os seus olhos se arregalaram e se acalmaram.

A girafa esticou lentamente o pescoço para cima, e o gato, sem pestanejar, deu um passo. Depois outro.

Desceu pelo pescoço da girafa como se estivesse numa ponte, com cuidado, com delicadeza, como se tivesse medo de acordar o milagre. Quando as suas patas tocaram no chão, todo o quintal aplaudiu. Alguém começou a chorar. Alguém gravou um vídeo, mas a mão tremia.

A girafa ficou ali por um momento, piscou os grandes e calorosos olhos e, como se concordasse, voltou para o carro. E o gato aninhou-se no capô quentinho e adormeceu.

O silêncio que se manteve depois foi especial.
Não apenas silêncio, mas um sopro de bondade que pairou no ar durante muito tempo.

Atyew