Um cão de rua apareceu na casa deles. No dia seguinte — a filha desapareceu…

Era uma noite perfeitamente comum.
A família Kovalev jantava — mãe, pai e a pequena Anya, de seis anos. Lá fora, caía uma chuva de outono, o vento vergava as árvores e nas janelas dançavam sombras da luz do poste. De repente, atrás da porta, ouviu-se um choramingar longo e baixo.

Anya foi a primeira a se levantar da mesa.
— Mamãe, alguém está chorando!
Eles abriram a porta — e viram o cão na varanda. Enorme, peludo, encharcado, com olhos tristes. As patas tremiam, o pelo embaraçado, e no pescoço — um pedaço rasgado de uma velha coleira.

— Não pode, Anya, — disse a mãe cansada. — É um cão de rua.
Mas a menina o olhou como se tivesse reencontrado um velho amigo:
— Ele é bom. Não veio por acaso.

O cão entrou cuidadosamente pela porta, como se pedisse desculpas. Deitou-se junto à entrada, apoiou o focinho nas patas e adormeceu imediatamente. Parecia ter finalmente chegado onde sempre quis estar.

De manhã, Anya trouxe-lhe uma tigela de leite.
O cão bebia devagar, olhando-a nos olhos, como se entendesse cada palavra, enquanto a menina sussurrava:
— Vou te chamar de Barão. Agora és meu amigo.

Barão não latia, não corria — apenas seguia Anya como uma sombra. No jardim, na cozinha, até no quarto. À noite dormia ao lado da cama dela, com o focinho sobre o cobertor.
Os vizinhos sorriam:
— Agora vocês têm uma princesa com seu cavaleiro.

No dia seguinte, tudo mudou.
Era sábado, ensolarado. Anya saiu para o quintal alimentar o Barão.
Dez minutos depois, a mãe olhou pela janela. Silêncio.
O quintal vazio. Nem Anya. Nem o cão.

Primeiro pensaram — está com os vizinhos. Depois — no parque.
Uma hora depois, já tinham chamado a polícia.
Ao anoitecer, toda a vila procurava a menina. Lanternas, gritos, lágrimas.

— AAAAAAANYYYAAA!!! — a voz rouca da mãe ecoava pela floresta.
A resposta era apenas o vento frio e o farfalhar das folhas.

De repente, alguém gritou:
— Ouviram? Latido!
Longe, do outro lado da ravina. Forte, desesperado.

Os policiais correram à frente.
Num campo onde antes haviam feito escavações, Barão estava à beira de uma velha cova. Rosnava, latia, escavava a terra com as patas.
Quando chegaram perto, viram embaixo um pequeno casaco.

Anya estava inconsciente, coberta de lama e folhas.
Parecia que havia caído e o chão cedeu.
Barão saltou na cova, começou a lamber-lhe o rosto, depois levantou a cabeça e olhou para a mãe.
Os olhos dele eram humanos. Inteligentes. Compreensivos.

Um dos socorristas sussurrou:
— Ele chamava a gente para ela… O tempo todo…

Quando tiraram a menina, Barão sentou-se ao lado dela.
Não se afastou até a ambulância chegar. Quando levaram Anya — ele apenas deitou-se junto ao portão.
Na manhã seguinte, não estava mais lá.

Passaram-se dias. Uma semana. Um mês.
O cão nunca mais foi visto.

Anya se recuperou. Os médicos disseram que se a tivessem encontrado uma hora mais tarde — seria tarde demais.
No corpo da menina ficaram marcas de patas — Barão a mantivera aquecida enquanto ela estava inconsciente.

Seis meses se passaram.
Numa manhã de primavera, a mãe arrumava Anya para a escola. A menina abriu a porta — e ficou sem fôlego.
Na soleira estava uma velha coleira gasta.
Na placa de metal, quase apagada pelo tempo, havia palavras gravadas:
«Salvador».

A mãe pegou-a nas mãos — e pela primeira vez desde então chorou.
Anya apertou a coleira contra o peito:
— Ele prometeu que voltaria…

Desde então, a cada primavera, a menina deixa uma tigela de leite na varanda.
E às vezes, pela manhã, a tigela está vazia.
E na areia — pegadas de patas.

Atyew