Às vezes, uma única carta pode mudar não apenas o destino de uma pessoa, mas também toda uma vida — mesmo que essa vida pertença a um elefante.
Tudo começou no verão.
Kirill, de dez anos, vivia com a mãe numa pequena cidade à beira-mar. O seu lugar favorito era o velho jardim zoológico nos arredores da cidade. Quase não havia visitantes, as jaulas pareciam demasiado pequenas e o ar cheirava a tristeza.
Mas Kirill ia lá todos os dias — por causa de um único animal.
Um elefante chamado Raja.
Era enorme, mas triste. No pescoço, pendia uma corrente enferrujada; a pele estava gretada em alguns pontos, e os seus olhos… tinham o olhar de um velho que já não espera nada de bom da vida.
Kirill levava-lhe maçãs e dizia baixinho:
— Aguenta, amigo. Eu vou pensar em alguma coisa.
Certa vez, ele ouviu por acaso a conversa dos tratadores:
— Acho que vão sacrificá-lo em breve. Está velho, já não serve para nada…
Essas palavras atingiram-no no coração.
À noite, Kirill sentou-se à mesa, pegou numa folha de caderno e escreveu uma carta.
Não ao jardim zoológico — mas a um jornal.
Escreveu tudo como era:
«Olá. No nosso jardim zoológico vive um elefante chamado Raja. Ele é velho, mas está vivo, tem olhos tristes. Está com dor e espera que alguém o salve. Por favor, ajudem-no. Ele merece viver.»
A mãe, depois de ler a carta, disse suavemente:
— Kirill, és um verdadeiro ser humano.
Uma semana depois, o jornal publicou um artigo:
«Um rapaz pede para salvar um elefante.»
As pessoas começaram a escrever, a telefonar, a aparecer. Voluntários recolheram dinheiro.
Alguém sugeriu transferir Raja para uma reserva perto de Krasnodar, onde cuidam de animais idosos.
Certa manhã, Kirill acordou com o som de um motor.
No pátio estava parado um enorme camião com o logótipo “Mundo Vivo”.
Na carroçaria lia-se: “Transporte de animais”.
Kirill correu para o jardim zoológico.
Lá, junto aos portões, já se reuniam pessoas, jornalistas e veterinários. Estavam a retirar Raja da jaula — devagar, com cuidado. Ele estava assustado, mas de repente viu o rapaz.
E, pela primeira vez em muito tempo, levantou a tromba e estendeu-a em direção a Kirill.
O rapaz acariciou a pele áspera e sussurrou:
— Está tudo bem… agora estás livre.
O elefante emitiu um som baixo e prolongado — como se agradecesse.
Todos ficaram em silêncio. Até os adultos choraram.
Um mês depois, havia um envelope na caixa de correio de Kirill.
Dentro — uma fotografia: Raja estava de pé no meio de um campo verde, e ao lado dele uma placa dizia: “Reserva Terras Bondosas”.
No verso, uma mensagem escrita pelo veterinário:
«O teu amigo está saudável. Adora nadar e agora dorme sem correntes. Obrigado, Kirill.»
Todos os anos, o rapaz recebe um postal da reserva.
Em todos — Raja: ora no lago, ora no campo, ora apenas a olhar diretamente para a câmara.
E em todos está escrito:
«Lembro-me de ti.»
Quando os adultos desistem, as crianças ainda acreditam que uma única carta bondosa pode mudar o mundo.
E às vezes — é realmente assim.

