Clara sempre foi do tipo rebelde, nunca se importou muito com os valores ou tradições da família. Mesmo quando adulta, sua atitude egocêntrica persistiu, muitas vezes entrando em conflito com as expectativas de sua mãe. Ela não tinha ideia de que sua decisão descuidada estava prestes a mudar tudo.
Aos 25 anos, Clara descansava preguiçosamente no sofá, folheando o celular sem entusiasmo. Sua mãe, Margaret, podia ser ouvida batendo a louça na cozinha, com uma sensação de tensão engrossando o ar entre elas. Era assim desde que a avó de Clara, Edith, havia falecido no início do ano. Enquanto Margaret ainda estava de luto pela perda de sua mãe, Clara parecia completamente indiferente, mal tendo demonstrado qualquer emoção desde o funeral. De fato, Clara nem mesmo compareceu ao funeral, para grande desgosto e frustração de sua mãe.
Quando Margaret entrou na sala de estar, limpando as mãos em um pano de prato, ela finalmente tocou no assunto que a estava incomodando há semanas. “Clara, o que você está planejando fazer com o depósito da sua avó?”, ela perguntou, com a voz tensa.
Clara não se deu ao trabalho de olhar para cima, continuando a rolar a tela. “Eu não sei. Não sei ao certo por que ela me deixou aquele depósito velho e empoeirado. Provavelmente está cheio de tralhas.”
Margaret suspirou, segurando sua decepção. “Esse ‘lixo’ pertencia à sua avó. Você deveria pelo menos dar uma olhada nela. Talvez haja algo significativo lá dentro. Você deve isso a ela.”
Clara arregalou os olhos, irritada com a sugestão. “Tenho certeza de que não há nada que valha a pena guardar. Simon ficou com a casa e tudo o que eu ganhei foi um depósito. Não é justo”, ela murmurou.
Margaret respirou fundo, esforçando-se para manter a calma. “A vida nem sempre é justa, Clara. Mas pelo menos mostre algum respeito pelos pertences de sua avó. Se você não fizer isso, pedirei ao Simon para dar uma olhada”.
A menção de seu irmão mais velho imediatamente fez com que Clara se irritasse. Ela não queria que Simon colocasse as mãos em mais nada de sua avó, e a ideia de ele vasculhar sua herança fazia seu sangue ferver.
“Tudo bem, eu vou amanhã”, disse Clara, concordando apenas em manter Simon longe da unidade de armazenamento, não porque ela tivesse algum interesse real em seu conteúdo.
No dia seguinte, Clara, a contragosto, foi até o depósito. Seu rosto se contorceu de irritação quando ela abriu a porta da unidade. Uma espessa nuvem de poeira saiu, fazendo-a tossir. A visão de móveis velhos, caixas empoeiradas e bugigangas aleatórias não a animou em nada.
“Que perda de tempo”, ela resmungou para si mesma enquanto começava a vasculhar as pilhas. Cada caixa parecia conter as mesmas coisas inexpressivas – roupas gastas, pratos lascados e itens domésticos ultrapassados.
Depois de apenas 20 minutos, Clara estava pronta para sair, convencida de que não havia nada de valor na unidade. Quando ela estava prestes a se virar e ir embora, um homem mais velho apareceu na entrada.
“Parece que você tem uma tarefa e tanto pela frente”, disse ele gentilmente.
Clara suspirou. “Sim, este era o depósito da minha avó, mas está cheio de tralhas.”
O velho olhou em volta pensativo. “Bem, se você não estiver interessada nisso, posso comprar de você.”
Clara se animou. “É mesmo? Quanto?”
O homem sorriu calorosamente. “Que tal US$ 1.000?”
Sem pensar duas vezes, Clara concordou, entregando a chave com entusiasmo. Para ela, parecia que estava se livrando de um fardo e ganhando um dinheiro rápido. Ela saiu do depósito com uma sensação de alívio, feliz porque a provação havia ficado para trás.
Mais tarde naquele dia, Clara voltou para casa, com os braços carregados de sacolas de uma compra impulsiva. Ela havia gastado a maior parte do dinheiro em roupas, um novo corte de cabelo e um celular sofisticado. Margaret, ocupada na cozinha, notou a atitude despreocupada de sua filha.
“Onde você conseguiu o dinheiro para tudo isso?”, perguntou ela, com a voz tingida de suspeita.
Clara deu de ombros despreocupadamente. “Vendi o depósito por US$ 1.000. Era apenas um monte de lixo inútil.”
Os olhos de Margaret se arregalaram em descrença. “Você vendeu tudo sem sequer dar uma olhada? Poderia haver algo valioso, algo que pertencia à nossa família!”
Clara lhe deu as costas. “Mãe, eram apenas coisas velhas. Nada importante.”
Margaret só podia balançar a cabeça, sua frustração aumentando.
Quando Clara se acomodou no sofá para assistir à TV, algo no noticiário chamou sua atenção. Ali, na tela, estava o mesmo homem idoso que havia comprado o depósito. Ele estava sendo entrevistado sobre sua última descoberta – uma rara coleção de antiguidades que valia milhões.
O coração de Clara se afundou ao ouvir. O homem havia descoberto arte valiosa, móveis antigos e uma coleção rara de pratos, todos escondidos nas caixas empoeiradas que ela havia descartado.
As palavras do homem ecoaram em seus ouvidos: “Às vezes, as pessoas não se dão conta dos tesouros que têm bem na frente delas.”
O rosto de Clara empalideceu. O peso de sua decisão impulsiva a atingiu como uma tonelada de tijolos. Ela havia vendido o legado de sua avó por alguns centavos e, agora, outra pessoa estava colhendo os frutos.
Margaret, que tinha ouvido o segmento de notícias, se aproximou e disse calmamente: “Isso é uma lição, Clara. Talvez agora você comece a valorizar o que realmente importa”. Depois de uma longa pausa, ela acrescentou: “Acho que está na hora de você encontrar um lugar só seu”.
Clara olhou para sua mãe, sem palavras, enquanto a realidade do que ela havia feito se instalava. Ela não apenas havia perdido uma fortuna, mas também havia destruído a confiança da única pessoa que sempre esteve ao seu lado.