A manhã começou tranquila. Uma autoestrada vazia nos arredores da cidade, os primeiros raios de sol, gotas de orvalho na relva à beira da estrada. As câmaras de vigilância registavam o habitual: trânsito, peões ocasionais, silêncio.
Até que ela apareceu.
As imagens mostram uma cadela a correr da berma da estrada. Magra, com a pelagem suja e despenteada, uma coleira rasgada e olhos cautelosos. Ela corre diretamente para a pista, como se estivesse em pânico.
O primeiro carro trava bruscamente, o segundo desvia. As pessoas gritam, buzinam, algumas até pegam nos telemóveis, pensando que o animal enlouqueceu. Mas a cadela não vai embora. Ladra, corre entre as faixas, não deixando que nenhum carro se aproxime.
Alguns segundos depois, ela pára de repente — mesmo no meio da estrada, em frente a uma berlina prateada — e começa a ladrar ainda mais alto.
Os condutores saem dos carros, irritados.
“Tirem-na da estrada!” “Alguém grita.
“Ela vai morder alguém!” exclama outro, indignado.
Mas a cadela não se mexe. Ela apenas rosna e olha para baixo, para debaixo do carro.
Um homem aproxima-se, baixa-se e imediatamente recua.
Debaixo do carro, a poucos centímetros da roda, jaz uma criança.
O menino está enrolado numa manta, com hematomas na cara e os olhos fechados.
Alguns segundos depois, torna-se claro: isto não é um acidente.
Um pouco mais à frente na autoestrada, estão os destroços de um acidente. Um carrinho de bebé capotado, um guarda-corpos partido. A mulher — a mãe da criança — grita, procurando freneticamente pelo filho, sem saber que este tinha rolado do carrinho diretamente para a pista.
E se a cadela não tivesse fugido naquele preciso momento, o primeiro carro não teria parado a tempo.
Quando os socorristas chegaram, retiraram o menino — estava a respirar. A cadela ficou por perto, a tremer, imóvel, até que… Entregue aos paramédicos. Então, simplesmente sentou-se à beira da estrada e olhou para o horizonte, como se soubesse que a sua missão estava cumprida.
Mais tarde, descobriu-se que a cadela vivia ali perto há mais de um ano. As pessoas diziam que ela aparecia sempre naquela autoestrada de manhã, deitando-se à beira da estrada e observando os carros.
Então, uma mulher reconheceu-a. Era a cadela do irmão, que tinha morrido ali num acidente dois anos antes.
Agora, vive com a família cujo filho salvou.
O menino chama-lhe Skye porque, segundo ele, “voou diretamente do céu”.
E de cada vez que a família passa de carro por aquela autoestrada, Skye levanta a cabeça, como se ainda estivesse a verificar se a estrada está livre… e se mais alguém se vai magoar.

